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Democracia , Educação e Cidadania


O lado dramático e cruel da situação educacional brasileira está exatamente aí. O homem da camada social dominante tira proveito das deformações de sua concepção de mundo. Ao manter a ignorância , preserva sua posição de mando, com os privilégios correspondentes. O mesmo não sucede com o homem do Povo. As deformações de sua concepção de mundo atrelam-no , indefinidamente, a um estado de incapacidade , miséria e subserviência. Transformar essa condição humana, tão negativa para a sociedade brasileira , não poderia ser uma tarefa exclusiva das escolas. Todo o nosso mundo precisaria reorganizar-se para atingir-se esse sim. No entanto, é sabido que as escolas teriam uma contribuição específica a dar , como agências de formação do horizonte intelectual dos homens. Cabia à lei fixar certas condições , que assegurassem duas coisas essenciais: a equidade na distribuição das oportunidades educacionais; a conversão das escolas em instituições socializadoras, pondo cobro ao divórcio existente entre a escolarização e o meio social. Ainda aqui a lei se mostra parcial e inoperante. Atende aos interesses dos novos círculos de privilegiados da sociedade brasileira, como as classes médias e ricas das grandes cidades, e detém-se diante do desafio crucial : a preparação do homem para a democracia , que exige uma educação que não seja alienada política, social e historicamente. 

+Fernandes, Florestan. Educação e Sociedade no Brasil. São Paulo: Dominus/Edusp, 1966. P. 537.


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