Além da Revolução Cubana , outra manifestação da lógica do “jogo de punhos” da Guerra fria foi a Guerra do Vietnã, a maior derrota militar dos Estados Unidos no século XX. Nela morreram milhares de jovens norte-americanos , além de crianças , jovens e velhos vietnamitas, alheios ao jogo de poder entre as duas potências. Em 2 de setembro de 1945, menos de um mês depois da rendição japonesa na Segunda Guerra Mundial, era proclamada a independência da República Democrática do Vietnã, sob a liderança do comunista Ho Chi Minh.
Mas a França, que pretendia reafirmar o controle sobre a região , reconheceu apenas o Norte como um estado livre. As batalhas se sucederam e os franceses findaram derrotados em 1954. Em maio de 1954, acordos firmados em Genebra estabeleceram uma separação provisória entre o Norte e o Sul e a futura reunificação do país por eleições gerais em 1956. Ho Chi Minh ficou com o controle do Norte , à frente de uma República comunista com capital em Hanói. As eleições , previstas nos acordos de paz, e que reunificariam o país, não ocorreram. Diante da possibilidade de vitória do líder comunista do Norte Ho Chi Minh, o presidente norte-americano Dwight Eisenhower deu respaldo à formação de um governo ditatorial do Vietnã do Sul. Teve início o conflito que se transformaria num grande laboratório da Guerra Fria.
De um lado , nacionalistas e comunistas apoiados pela China e União Soviética ; de outro, uma ditadura apoiada pelos Estados Unidos. A guerra durou de 1964 a 1975 , quando tropas do Vietnã do Norte ocuparam Saigon, a capital do Vietnã do Sul. Os americanos perderam cerca de 50 mil soldados e tiveram um prejuízo de 200 bilhões de dólares. Nesse banho de sangue, estima-se entre 1 e 3 milhões o numero de vietnamitas mortos. Internacionalmente , a Guerra do Vietnã simbolizava uma luta heróica entre a maior potência capitalista do globo e um país pobre do Terceiro Mundo. Durante cerca de dez anos , os jornais registraram batalhas sangrentas entre dois exércitos desigualmente armados : utilizando tanques , helicópteros , jatos, radares , bombas sofisticadas e armas químicas ; o outro usando basicamente fuzis, morteiros , lanças de bambu envenenadas e, sobretudo, o conhecimento da selva. Nos grupos de esquerda, havia uma adesão natural pelo mais fraco, que , ao contrário do que normalmente acontece, dessa vez venceria. A luta marcaria fundo a época , entrelaçada com as reformas que agitaram o mundo a partir de 1968.
A repulsa à disciplina e à hierarquia , a valorização da natureza, a descoberta de uma nova liberdade por meio do amor livre e da música , tudo isso se cristalizava na Guerra do Vietnã , como se a batalha decisiva contra o conservadorismo ocorresse lá. Em “Nascido para matar” , filme de Stanley Kubrick , o personagem Joker, cujo nome significa “curinga” e “brincalhão”, diz, diante das câmeras , em uma entrevista no front de batalha: “Quis conhecer o exótico Vietnã, a jóia do Sudeste da Ásia. Quis conhecer pessoas interessantes de uma cultura antiga e matá-las. Quis ser o primeiro garoto do meu bairro a matar alguém”. Na ironia do personagem está o olhar de muitos jovens americanos para a Guerra. De fato, o que derrotou o Exército norte-americano foi a militância pacifista , a cobertura na televisão , a guerrilha e o sentimento de que se tratava de uma guerra longínqua, inútil. Se, na Guerra do Vietnã, as esquerdas se uniram contra o inimigo norte-americano, na Tchecoslováquia o movimento era contra a esquerda soviética.
